Vilene
Moehleck, em seu artigo denominado: “Da dança e do devir: o corpo no regime do
sutil” trabalha a questão do corpo, da dança e do corpo que dança. O que
pretendo destacar neste post são algumas questões que esta autora me despertou
e que se fazem relevantes no tocante à função da dança, ao seu sistema e ao
sujeito e sua história e sua relação com o corpo próprio:
1- “O
corpo que dança procura, por meio de sua gagueira hesitante, saltar para a
produção de sua própria língua”.
O corpo
que dança busca uma produção! Um produto, uma língua. Não qualquer língua. Que
tipo de língua seria? Uma linguagem no sentido de Chomsky? Lalíngua?
Antonio Quinet,
psicanalista carioca, ao se debruçar sobre a questão do corpo postula que este,
traz uma marca própria que o “permite colocar-se numa cadeia significante”. Em
seguida, ele afirma: “O ser humano é um corpo falante. E esse corpo é sede de
lalíngua”.
Para a
primeira questão que o texto de Moehleck me suscitou, a saber, sobre esta
língua própria, parece que a autora se refere em psicanálise à lalíngua. Ou
seja, o corpo que dança, procura produzir esta tal de lalíngua que é singular.
É através dela, que um corpo pode gozar ou como Quinet coloca: “Só através dela
é que a linguagem existe para fazer falar um corpo que goza”.
O autor
continua: “O corpo como organismo é sede de lalíngua”. O que seria então esta
lalíngua? Lalíngua é algo da língua materna que foi creditado no corpo. É o que
faz do corpo um corpo falante!
Retomando,
a autora afirma que um corpo que dança procura produzir uma língua propria! É
como se o bailarino tivesse uma “reserva” de língua materna que seria o
combustível para um produto de uma língua própria não sem levar em conta esta
reserva.
2- “A
dança se torna um meio de entrar em outro mundo, no mundo do outro”.
Em
função de ter tido este crédito da mãe (e entenda-se mãe não somente no sentido
literal mas sim em termos de função) poderia o sujeito entrar no mundo do
outro? Se é sabido que o mundo é do outro, é porque não há exclusão deste
outro. Isso se traduz pelo processo dialético de alienação/separação.
A entrada
do sujeito na linguagem tem relação com este outro que lhe fala. Afinal, como
seres imaturos organicamente desde o nascimento, dependemos do outro.
3- “...o
corpo que dança se desprende de sua identidade e se abre para a criação de
novos contornos, experimentando, assim, gestos de mundo e novos modos de
existir”.
Identidade
aqui colocada como idêntico, igual. Afirmar que o corpo se desprende de sua
identidade, retorna a questão acima sobre o processo de alienação/separação. Ou
seja, o sujeito, se separa de si mesmo e transcende. Como a dança funciona!!!!
A
transcendência envolve experimentar novas formas de existir, novos gestos.
Transcender o lugar do sujeito em sua história. Aquele que se reconhece como “filho
mais velho”, “o pequeno”, “o inteligente”, “o maluco”, “o agitado” poderia na
dança, experimentar estar em outros lugares. Novos modos de existir, implicam
novos lugares na vida. Troca de sintoma!